terça-feira, 15 de julho de 2014

Indomável.

[Soundtrack do texto, galera! Dê play e curta!]


    E era daquelas que compunham a nata dos que esqueceram de se importar.
    Entrava nos carros e não queria saber aonde ir. Só queria ir. Sair, fugir, voar. "Ter na mente as asas que o corpo não me oferece", dizia aos amigos. E abaixava os vidros - os quatro, porque o vento lhe faria bem, ela afirmava. Com a mão para fora, era parte da paisagem. Era parte das árvores.
Ela era uma viagem só.
    E era daquelas que encontram na natureza uma razão pela qual lutar.
    Olhava o verde e se achava muito cinza. Voltava em casa, colocava um vestido vermelho e ia à padaria. Ela queria cantar com os olhos. Queria cantar e (en)cantava divinamente bem. Não reconhecia isso, mas sentia que as pessoas a ouviam. Falava alto, por ser insegura demais ao ponto de esperar que buscassem ouvi-la. Pisada forte, afundava na areia e espanava os pés, depois. Tinha medo de ir sozinha até a esquina, mas ela se vencia e caminhava por dois quarteirões. E sorria, porque sorrir era o segredo que ninguém conhecia.
Ela era uma felicidade, inteira.
    E era daquelas que as pessoas não poderiam entender.
    Ela queria, ela começava. Ela desistia, terminava. Inconstante, improvável, inexplicável. Sorria quando fazia alguém passar tristeza; "eu entristeço, mas posso tentar ajudar". Não ajudava, porque depois de experimentá-la, era um vício só. Mas ela não; ela não se viciava em ninguém. Era desvirtuada do mundo, mas completamente atenta e precisa com ele. Ninguém a encontrava quando ela se escondia, ninguém mudaria suas opiniões e decisões. Se ela viesse, ela ficaria pelo tempo que quisesse.
Se fosse embora, ninguém sabe se arriscaria voltar.
Mas muitos pediram o seu retorno, pois o silêncio depois dela era ensurdecedor.
    E era daquelas que se faziam em partes, nunca em inteiros.
    Meio entidade, meio capacidade. Apresentava-se feito uma mulher mas, por Deus, não poderia ser mais criança! De manhã, adorava doces; de noite, degustava bons vinhos, boas companhias, boas possibilidades. Na segunda, dividia as despesas; nas sextas-feiras, aceitava ser servida. E todos a serviam, ah, serviam com gosto... Porque, no sábado, ela era uma nuvem de leveza. E, no domingo, sumia. 
E queriam descobrir aonde ia, por quem saía, de que se aproximava quando não era mais nada de ninguém, a não ser ela por si mesma.
Ninguém a conhecia. Não, não.
    Não sabiam que ela ia ao mar. Fechava os olhos. Colocava os pés nas marolas e deixava que a Lua falasse.
"_ Por que você é indiscutível? Por que ninguém define você?"
    E ela sorria, bonito, sem restrições. Baixinho, falava.
"Por que sou uma das estrelas que brilham ao seu lado."
E o silêncio que vinha depois dela era celestial.
"Viver não dói. 
Pertencer, sim."
    

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