terça-feira, 15 de julho de 2014

Autorretrato.

[Soundtrack do texto! Dê o play e aproveite!]
Quem sabe um pouco da docilidade.
Essa mesma, que as pessoas quase não têm mais.
                    Escondida entre um meio sorriso e a covinha do queixo. Ali, eu me encontro tão bem. Talvez no vínculo de preocupação entre as sobrancelhas. Nas linhas das têmporas. Nas dúvidas entre o desleixo e a postura. Naquele meio tempo em que abre a boca e pensa no que pode falar. Na mania de encostar nos ombros alheios e de consertar a posição da blusa enquanto mantém conversas. Ali, quem sabe, eu me vejo tão bem.
                    Nas mil e duas expressões do dia a dia. Na maneira de opinar com os olhos. Na vergonha e no desconforto de sorrir mostrando os dentes; "um pecado", por sinal, pois há uma nota única entre as gargalhadas. No cabelo: penteado para a faculdade, assanhado nas fotos. No meu ímpeto de preferir os assanhados.
E de assanhar, também.
                    Na tendência de observar. No respeito e na gentileza. Na educação e na falta de jeito para lidar com o mundo. Entre o adolescente e o quase-adulto. Talvez, quem sabe, numa magia que eu ainda não sei de onde vem. Na sensação de levitar. Nas músicas que ouve, talvez, eu me ache, encolhida, tentando ouvi-lo respirar. Entre os segredos que nem ele sabe que existem, entre os segredos que nós podemos criar; segredos que podemos ser. No espaço entre a possibilidade e a concretização. Nas monofrases simpáticas, quando a disponibilidade para uma conversa é pequena.
Ali, na sinceridade não pronunciada.
                    No status de melancólico assumido. Na personalidade à moda antiga. No polígrafo que traz junto ao toque das mãos. No clarear que se dá quando tira o cabelo da minha face. No sol que não queima. Na sensação de que nascem lírios em mim, a cada frase de amor. Lírios e tulipas.
Tulipas, lírios e girassóis.
                    Nas dedicatórias do meu livro em produção. Quieta, eu deixo meu coração, remendado e cicatrizado, escrever por mim. No guia do que eu sinto. Na saudade declarada. Na fidelidade aos amigos. Na solidariedade de sempre ler os textos.
                    Quem sabe? Nos dentes que ele não mostra e na própria luz, que não vê. Ali, eu sinto, há um reflexo de mim que eu via. Há uma certeza que eu não podia afirmar. Há aquela âncora pronunciada:
"é hora de fincar raízes."

Nenhum comentário:

Postar um comentário