quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cenas.

[Soundtrack do texto! E eu, particularmente, amo essa música!]
   
      E, por uns breves segundos, não havia mais nada.
      Senti o choque do encontro das nossas mãos. A corrente me percorreu. Os anelares se tocaram e não - não se anularam. Foi silencioso. Foi lento. Foi bonito.
A paisagem se desfez, as pessoas se afastaram. Apenas nós estávamos ali. Nós sentíamos aquilo.
Nós éramos, enfim, o nosso próprio 'nós'.
      Experimentei beijar-lhe o ombro. Tinha aroma de roupa limpa, natureza e colônia. Encostei a cabeça ali, entre meu peito e aquele coração. E, bem ali, nós nos sintonizamos. Tocamos a mesma música. Cantamos, calados.
E o sol nasceu às 17:37 de uma sexta-feira de julho.
      "Olha", ele começou, "perdoa o mau jeito.
Mas é que eu sou um tolo medroso, que não quer errar com você. Por isso, por favor, não fica pensando que eu vou te largar a qualquer momento. Não é assim.
Sei que eu não tenho atitude, mas, pelo amor de Deus, atitude era tudo o que eu queria ter. Mas, me diz: como eu te beijo com a minha boca seca de nervosismo? E se o hálito da pasta de dente já tiver passado? E se eu for rápido demais, nossos narizes se baterem e você gargalhar na hora do nosso primeiro beijo?
Com que cara eu fico, linda?
Cinco vezes a cada dez minutos eu me sinto prestes a te agarrar pela cintura e pedir, de um jeito especial, que você não vá embora. Enquanto a gente assiste a uns filmes, eu fico querendo ser aquele protagonista que mata doze mafiosos e volta, triunfante, pra abraçar a mulher que ama.
E se a gente escuta Los Hermanos, eu queria ter uma voz boa e cantar pra você. Eu queria... Que você fosse a minha Lisbela. Queria que a gente se agarrasse ao som de uma música da Legião.
Eu te respeitaria, e você se sentiria lisonjeada.
Mas é difícil... Reagir à sua presença. É difícil sentir que, dessa vez, eu não vou suportar perder, porque, você sabe... Eu sou o rei dos vacilos.
Olha... Só... Acredita em mim, tudo bem?
Eu te quero do meu lado. Bem aqui. Pra assistir a um filme de mafiosos e pra caminhar pela orla.
Eu sei que sou medroso, mas você, linda, não precisa ter medo.
Já me conquistou. Entende?"
      Ele me falou tudo isso, encarando as nossas mãos. Às vezes, parava; respirava fundo, pensava e seguia. Parecia ter ensaiado aquele discurso muitas vezes, antes de ter coragem pra verbalizá-lo. Eu poderia ter ouvido só os rascunhos e, ainda assim, eu sorriria para a verdade mais meiga da semana.
      "Se eu fosse a mulher amada, você mataria os doze mafiosos e voltaria pra me abraçar?", perguntei.
      "Se você fosse?" Ele riu.
      "Sim".
      "Você já é, garota", respondeu. E me olhou. "Você já é essa mulher".
      Às 17:50, o sol se pôs. Os tiros que ele disparou contra os doze mafiosos se transformaram em estrelas. A lua, crescente, assistiu às bocas secas e aos narizes se batendo.
Mas eu fiquei inebriada demais pelo gosto de hortelã que a pasta de dente deixara e, admito:
não pude perceber mais nada.


A diferença entre o filme e a vida é que, na vida, as coisas realmente acontecem.
E os vínculos existem para serem selados.

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