quinta-feira, 31 de julho de 2014

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A você, que confunde uma mulher com um pau de sebo.
Espero que aprecie essa singela e justa homenagem.
          Meus sinceros pêsames, pela morte da vergonha na sua cara. Mas tudo bem, não se preocupe! O medo, a angústia e o desconforto que sua falta de bom senso causa compensam o falecimento. Não chore, não se deprima; sabemos o quão dificílima há de ser essa perda. Somos hipersensíveis e frescas para esse tipo de coisa, como você mesmo adora dizer.
          Venho, em nome de suas especiais "escolhidas", dizer que o 180 agradece pela sua amável colaboração. É belo ver um cidadão, de indiscutível boa índole, colaborar para a demonstração de como um criminoso depravado se comporta. Agradecemos demais! Uma iniciativa fascinante. 
Afinal, para nós, deve ser um prazer sermos vistas como pedaços de carnes apetitosas e, por que não ousar?, esfregável.  Nossa, meu querido, uma honra! Até porque, convenhamos: quem se incomodaria?
Se mulheres atraem seus instintos mais imundos, por que vocês não podem dar uma forma para que isso se firme? É louvável de sua parte.
Olha, parabéns.
          Agradecemos, também, pelo seu decoro em sequer disfarçar as suas humildes intenções. Facilita a nossa compreensão! Da mesma forma funcionam suas olhadas para baixo, afim de confirmar se o 'encaixe pode ser perfeito'. Exatamente assim, mostrando ao mundo como nós nos parecemos com um joguinho de Tetris: "Mude a posição e veja onde cabe melhor!".
Tal atitude, amigo, é tranquilizadora! Mostra que não estamos lidando com amadores, ou com gente mal intencionada, não é mesmo? Você prova que está, apenas, buscando posições confortáveis numa lotação - se é que para você uma lotação se faz necessária.
Se não fossem esses sinais, confundiríamos alguém assim com um simples porco nojento.
O que seria profunda injustiça.
          Meu namorado compartilha a mesma opinião. Nossa, só de ele se lembrar que moças como eu são cobaias de suas demonstrações, uau, ele acha inacreditavelmente interessante.
Só me privo de escrever, aqui, o que ele diz a seu respeito porque de respeito mesmo é este meu blog, e eu detestaria manchá-lo com palavras indesejáveis. 

          Mas tenha nervos, meu caro.
Sabemos de suas doces intenções. Sabemos, igualmente, de seus bons conceitos. Sabemos como você nos enxerga. Sabemos que, em sua cabeça bastante evoluída e pela sua opinião coerente, deveríamos aplaudir, aprovar e pedir mais. Sabemos que somos nós, nossos shorts e nossos batons vermelhos que excitam você.
Somos as responsáveis. As únicas, claro. Você é vítima dos nossos jogos bizarros de 'sedução'.
De coração, muito obrigada!



E caso você não compreenda ironias, aqui vai um recado - dessa vez sim - justo e objetivo:
Você me causa asco. Repugnância. E desprezo nem um pouco silencioso. 


E a você, que entendeu, que já passou por isso, que presenciou uma situação parecida: denuncie. 180.
É ofensa, é abuso.
E não se acanhe, por favor:
o direito é nosso.
A vergonha é deles.
          

segunda-feira, 28 de julho de 2014

7.

[Soundtrack para o texto, gente!]

     
       7 cliques na barra de espaço para fazer um bom parágrafo.
       7 dias para se criar o mundo. 7 dias da semana. O primeiro deles, domingo, tem 7 letras. 7 selos e 7 trombetas. 7 dons. 7 cores no arco-íris.
E mil acasos que me levam até você. 
       7 livros de Harry Potter, 7 anos de formação em Hogwarts. 7 é, também, o número perfeito da magia. 7 anões com a Branca de Neve. 7 deuses na mitologia chinesa. 7 notas musicais. 7 maravilhas antigas no mundo. 7 signos com representação animalesca. 
E 10 coisas que eu não consigo odiar em você.
       7 colinas de Roma. Setembro, 7. 7 imperadores romanos assassinados. 7 cargos eletivos. 7 rainhas chamadas de Cleópatra. Na Índia, 7 cidades sagradas. 7 algarismos romanos (os outros, combinações desses legítimos). No Hino Nacional, 7 vezes "Brasil" é mencionado. 7 estados brasileiros desafiados por Lampião. 7 sábios gregos. 7 edifícios sagrados na Babilônia. 7 pecados capitais.
E minhas 21 (3x7) histórias.
       7 características apreendidas por duas pessoas que acabaram de se conhecer. Até os 7 anos, a criança mantém a inocência. Aos 14 (2x7), desabrocha a sexualidade. Ora, 7 pragas do Egito. 7 vidas de um gato. A casa das... 7 mulheres. Os 7 mares. 7 anéis para os Senhores Anões. 7 Power Rangers. 7 esferas do dragão. Fechado a 7 chaves. 7 palmos abaixo do chão. Pintando o 7. 

7x1, amigos. 7x1.

       7 planetas astrológicos. 7 virtudes divinas. Os 7 Arcanjos. Dança dos... 7 véus. 7 raios da Luz Sem Fim. O 7º céu. 7 anos para cada fase de personalidade. 7 CDs do City and Colours. 

2014 = 2+0+1+4 = 7.

Parece legal, né? Mas, no final das contas, eu mal acredito nisso. Nessas coincidências pequenas e numerais Não é isso que me importa.

Importa é que, a cada dia, você cresce em mim como árvore cresce em solo fértil.
A cada dia eu confirmo que tem valido a pena, abdicar do discurso de não querer ninguém.
Seus olhos são, cada vez mais, esse misto de encontro e perdição.
Como uma flor que, fechada em si, não via o sol. Fechada em medo, em turvas tentativas de espiar por cima das pétalas e arriscar segurança. E, ao notar o perigo, voltar-se a si.
De repente, percebe que já foi regada e bem nutrida - e não precisa mais depender de boas condições.
Sua hora chegou. Sua vez, sua chance.
E vê que, enfim, é hora de desabrochar. 

Entenda, meu amor:
para mim, que sempre me achei espinho, ver-me flor é a mais doce das conquistas.


Você é o meu 7º arriscar. 
E é um prazer dizer que a minha confiança não tem nada a ver com números.

Mas tem absurdamente tudo a ver com você.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Cinema #2

Mais um post diferente!
("post diferente" lê-se como "post que sane a minha falta de criatividade").
Outro filme lindo que fala sobre amor - e outras coisinhas mais.

La délicatesse (A delicadeza do amor, após adaptação para o nosso idioma) é um filme francês, de 2011, caracterizado como drama, dirigido por David e Stéphane Foenkinos.
O "drama", na minha opinião, é bem sutil - porém vivaz - durante todo o filme. A história se inicia com a alegria do casamento de Nathalie e Francois (Audrey Tautou e Pio Marmaï, respectivamente) - história e alegria essas que são, prematuramente, interrompidas pela morte de François devido à gravidade de um atropelamento.


Pois muito bem: Nathalie mergulha numa depressão bastante compreensível - já que ela realmente amava o esposo e, desde a morte do homem, vive sozinha na casa do "ex"-casal. Depois de meses, ela retorna ao trabalho e, dessa vez, mergulha na produtividade. Determinada a esquecer a grande perda de sua vida, Nathalie torna-se, para os colegas, uma pessoa "fria, estranha e magnificamente profissional". A viúva ainda ganha uma ótima promoção de seu chefe - interpretado por Bruno Todeschini. Ele, alem de admirar o trabalho de Nathalie, admira-a muito como mulher - e a moça precisa lidar com diversas cantadas inoportunas de seu chefe que, além de inconveniente (apesar de charmoso, ~cof cof~) é casado há muito tempo.
3 anos depois, a melhor amiga de Nathalie, Sophie (Joséphine de Meaux) diz que já é hora da amiga viver um novo amor, pois a solidão só lhe tratá frustração e problemas. Nathalie nega a proposta, mas, depois, mostra-se tendenciosa à análise.
E é aí que a situação ganha um tom de graça: um belíssimo dia, Markus (François Demiens), empregado de Nathalie e diferente dos padrões aceitáveis ("feio", desengonçado, "sem graça" e esquisito), com quem ela nunca falou, aparece na sala da chefe pedindo ajuda num problema de trabalho. Nathalie, sabe-se lá Deus por quê, levanta de sua cadeira e tasca um beijo-sugador-de-pia em Markus. Depois, diz que conversam outra hora sobre o problema no caso 114 e dispensa o homem.
E aí, meus amigos, a história realmente começa e vocês precisam assistir para conhecê-la.
É um filme encantador, e passa diversas lições - dentre elas, a importância de não se mediar pela opinião dos outros, os conceitos relativos e errôneos de beleza e, principalmente, a maneira como o amor sempre pode estar mais perto do que imaginamos.
A atuação de Audrey Tautou é ótima (o que não me surpreende, depois de seu trabalho como Amélie em O fabuloso destino de Amélie Poulain), e (daí o nome do longa) a delicadeza de cada cena é linda.
Markus é uma personagem apaixonante, além disso. E o fato de sua imagem fugir dos padrões "atrativos" à maioria das mulheres só aumenta essa impressão.
Espero que assistam e comprovem! É uma tapa na cara da sociedade, que acha inaceitável o sentimento verdadeiro por pessoas que não lhe pareçam "bonitas", "adequadas" ou "ideais".
A seguir, o trailer do filme!


PS: Foi indicado, em 2012, ao César (prêmio cinematográfico francês) de melhor primeiro filme e melhor adaptação (de uma obra literária vencedora de dez prêmios, e escrita pelo próprio David Foenkinos).


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Confusões.

[Soundtrack para o texto!]
       
          Ainda que perdida nos devaneios de um sonho profano, deixo-me perder ainda mais nos exageros daquilo que não existe.
          Penso se seria decente acreditar na correta possibilidade de que, no que penso, perco-me a cada ideia - e na perdição da dúvida, escolho o errado e o impróprio, guardando como mulher o desespero louco da menina inconstante que teima, teima habitar em mim.
          As notícias já não leio e das histórias pouco sei - mas não me importo (ou não consigo me importar) com o resto do mundo, enquanto este universo medianamente paralelo trava guerras colossais entre ética e estupidez.
          Mesmo que incompreensível à leitura, não escrevo para quem me lê; escrevo para quem me olha e mantém a ousadia inteligente de tentar interpretar o que há de mais inóspito em mim. Apaixonante seria a alma que, ao desvendar todos os segredos que malcriadamente alimento, permaneceria me chamando humana e não desistiria de confiar em mim.
          Mesmo, ainda ou sabidamente estranha, ligo pouco ao mundo e ignoro quem me profetiza. Nunca atentei ao inúteis e idiotas que insistem em me conhecer e me divulgar sem antes - sequer! - perguntar meu mal usado nome.

Ainda estou em guerra, e mato.

          Mato quem me mata, mato quem me consome, mato quem me salva - pois venero a solidão, enquanto a vida me ensina a ser pungente; de homem tenho tudo, de mulher manifesto a essência sedutora, e de extraterrestre marciana elaboro boa parte da minha lógica.
          Quem me vê compõe flor e perfume; mas, de jardim, cultivo o espinho da rosa vermelha que apodrece, sem perder o aroma natural que encanta e priva.
Vampira da atenção; mordo orgulhos e sugo conceitos. Largo a carcaça e vou-me embora.

Ainda mato em guerra, e sábia sou.

Ainda sábia, mato, e em guerra estou.

A mesma guerra mata; eu, ainda sábia, soube matar.

Mato porque sou sábia.
                                E a guerra já acabou.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Cinema #1

Amadíssimos!
Pois bem, o segundo post do dia é diferente mesmo:
ao invés de divagar sobre amor, recomendarei um filme que fala sobre o acontecimento desse tal sentimento. (Até rimou, que fofo!)
E o melhor: à base de música!

Once (Apenas uma vez, na quase nunca coerente tradução para o português) é um filme musical irlandês, do ano de 2007, dirigido (e lindamente escrito) por John Carney.
A história é bem peculiar (bem como a abordagem geral do longa): Em Dublin, cidade irlandesa, um rapaz toca e canta suas músicas pelas ruas, durante o dia. Paralelo a isso, uma moça imigrante, vinda da República Checa (ou Tcheca, tanto faz), tenta levar uma vida melhor num novo país.

"E qual é a parte comum a essas duas pessoas distintas?" Ora, a música!
Um belo dia, a moça imigrante (que já observava o irlandês cantor há dias) resolve questioná-lo sobre as composições e os talentos dele. Ela descobre, na conversa, que o pai do rapaz (e o próprio músico também) tem uma loja que conserta aspiradores de pó. Por coincidências desse destino louco que nos guia (#drama), a jovem tcheca tem, em casa, um aspirador quebrado - e, em suas mãos e voz, ela leva, também, o talento incrível para a música.
Parece clichê? Parece normal? Parece recorrente? Leia só mais um pouco.
O filme todo (cerca de uma hora e meia) teve um orçamento de 160.000 dólares - o que é bem pouco, caso vocês não conheçam orçamentos de filmes mundo à fora. Ele foi gravado em 17 dias, por uma câmera nos ombros de um câmera-man. Ninguém nas ruas de Dublin percebeu que era um filme sendo gravado - pensaram, de fato, que era um músico de rua, uma jovem interessada e um estranho filmando a cena.
Ou seja: a fotografia do filme é completamente original, lembrando um acervo pessoal de vídeos e, em certos momentos, fazendo-se parecer com um documentário.
"Ai, desculpa aí, mas eu só acredito em produções que receberam prêmios. Sou papa-troféus."
Não seja por isso!
Falling Slowly, canção do filme, composta e interpretada por Glen Hansard e Markéta Irglová (os próprios intérpretes das personagens protagonistas, sim!) ganhou o Oscar de melhor canção original - e foi, justamente, indicada ao Grammy de 2008. [E, aos fãs de programas de calouros, Kris Allen interpretou essa música no American Idol 8, e Simon Cowell julgou a apresentação como "brilhante".]
Além disso, o filme também ganhou o prêmio Independent Spirit de melhor filme estrangeiro.
Não vou revelar muita coisa sobre o enredo, mas posso garantir: foi a produção mais doce que já assisti. A interpretação, a maneira real de mostrar a música - e o nascer de um sentimento - são encantadoras, de verdade. Recomendo mil vezes! E digo que me apaixonei pela história.
Ah! O longa tem aproximadamente 20 músicas; 19 delas são composições originais de Glen e Markéta, que, após o lançamento do filme, montaram um lindo casal musical.
Interessados em conhecê-los? Procure "The Swell Season" no Youtube.
Espero que assistam! E sintam a sensibilidade e a delicadeza desse filme.
A seguir, uma das músicas de Once! (Com Glen e Markéta na interpretação, claro).



PS: Em momento algum você sabe o nome das personagens. Ele é apenas o Rapaz que Canta, e ela a Moça que Canta e é Imigrante. Isso torna o filme muito mais real, mostrando que o enredo é a personificação de muitos outros casos parecidos - e desconhecidos.





Angústias.

[Soundtrack do texto, galera! Aproveitem!]

O meu olhar já se desvanecia
por tua coragem que, muda, crescia
no amanhecer que a nuvem cobria,
à espreita de quem se atormentava.

E nosso sonho já não mais valia
quando minha dor, então, prevalecia.
E nossa noite se esqueceu do dia
em que adorar era tudo o que importava.

Seguimos, transbordando a euforia
dum acaso que, crescente, nos vencia.
Passado o tempo, todo o resto adormecia
na cama falsa, que a nós incomodava.

Desprezamos toda crise que pedia
por mais chances - suplicando poesias.
Mas a vontade, que, demais, se esvaía,
era o fim que aquela vida alimentava.

Encolhidos, suplantamos quem iria
abrir-se em flores; quem, por nós, aumentaria
a busca suave; busca da qual nos fugia
o amor real -
que, de nós, se afastava.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dedicatórias.

[Trilha sonora para o texto! Leia ouvindo!]
                                      

       
         A você, querido amigo, que liga 23:59 do dia anterior ao meu aniversário e diz "Ei! Eu vou ser o primeiro, okay?". Que me olha e, assim que me vê, sabe que meus pais brigaram outra vez. Que sabe sobre as minhas histórias; orgulhos, preconceitos, arrependimentos e sobre meu medo de que, um dia, zumbis montem o tal apocalipse.
         A você, que nunca desiste de me acompanhar durante os percursos dessa vida comprida (que seja comprida! Temos muitos sonhos a realizar...). Que entende meu medo de mar, de água-viva e a minha mania de enfrentar o medo de altura. Que me liga e me convida para todas as festas de arromba, raves, pagodinhos marotos, forrós, teatros, orquestras e "aquele cara talentoso que toca viola e canta no centro da cidade". Que me conhece só pelo sorriso, que me desmonta só com uma intimação: "Eu te proíbo, garota, de ficar triste por motivos tão esdrúxulos. Tenha dó de si mesma, por favor".
        A você, que não se importa com os meus dias deprimidos. Que sabe quando eu não quero estar sozinha - mas preciso, e, por isso, se afasta e espera. Que já percebe que eu não assisto filmes sobre câncer por eles fazerem com que eu me lembre da minha avó, da minha mãe. Que memoriza os filmes que eu sempre quis assistir, e não assisto por preguiça de baixar no uTorrent. Que é o craque das minhas manias, o mestre de compreensão dos meus textos e o destino das minhas maiores gratidões.
        A você, que é a minha companhia a qualquer momento. Que ri quando eu tropeço (frequentemente, diga-se de passagem), que fala sobre as séries mais legais que eu - ainda! - não vi. Que tem uma vida, prioridades e objetivos - mas nunca se esquece das pessoas legais que lhe acompanham na arte de viver. Que valoriza essa família de irmãos que, bem, você mesmo escolheu. Que desabafa sobre a novela que teve um final deplorável, sobre o novo CD daquela banda que eu nunca nem ouvi falar e sobre a pessoa que lhe fez sentir apertos no coração.
         A você, que não me procura apenas para solucionar os seus problemas. Que sabe que eu faço faculdade de Letras, e não de Psicologia. Que conversa até sobre a unha do pé que, caramba, encravou de novo. Que não tem vergonha de contar os erros, que não se gaba propositalmente pelos acertos e que compartilha os medos das tentativas. Que tem sonhos e deseja realizá-los, e me conta sobre as intenções da maioria deles - maioria, não totalidade; todos nós precisamos de segredos. Que me apresenta a uma música porque, quando a ouviu, viajou para o por do sol que eu lhe mostrei. Que também tem histórias para contar. Que busca manter um diálogo plausível (ou não), coerente (ou nunca) e diário (ah, aí sim!).
         A você, que não altera o status da nossa amizade conforme a distância, o tempo sem conversar ou as vezes em que discordo das suas opiniões. Que não tem medo de parecer infantil e se mostrar por inteiro. Que se permite ser conhecido, deduzido. Que não engana. Que não monta farsas. 
         A você, que não é memorável apenas no dia 20 de julho. Que sabe o que significa dizer "Ei! Somos amigos. Os melhores, okay?", ou seja: uma vez dito, cria-se um laço. Que entende a injustiça, a dor e a decepção de se dispensar, ignorar ou desconsiderar amizades que (talvez...) foram verdadeiras. 

A você, que eu nunca vi, não sei o nome e nem imagino quando aparecerá:
um atrasado (ou adiantado?) Feliz dia do Amigo. 

Anseio por lhe conhecer.

Lições.

[Trilha para o texto! Dê o play e curta!]

       
        Ele é a sua razão de insônia. Demora-se, a cada dia um pouco, nos seus pensamentos. De um lado para o outro, você vira na cama e se lembra de tudo o que poderiam ter feito, ter dito ou ter sido. Analisando possibilidades, e nunca acontecimentos.
"Tudo para dar certo. Por que não podemos mais?".
        
        Porque, na vida, nós precisamos aprender a perder. A cair, quebrar nossa cara limpa e deixá-la suja. Nascemos chorando porque a redoma das nossas mães nos protegiam daquilo que vamos ter de enfrentar, uma hora ou outra.
Decepções são bons exemplos. E não se engane, porque quando você pensa que vai passar, não passa. Quando você acha que quase já superou, não supera. E quando se sente pronta para evitar pensar, não evita. É atrativo. Só há um sentimento mais perseguidor que a paixão:
a mágoa.
        Mentiras marcam mais que beijos, e essa é a maior verdade que eu poderia lhe dizer, hoje. Rejeições doem mais do que abraços amenizam. Os erros vão se tornar provas de que não se pode confiar - nem em si mesmo, muitas vezes. E é ótimo que seja assim!
Se as melhores sensações fossem sempre a solução perfeita para as piores ocasiões, ficaríamos dependente do bem estar. E, cá entre nós: a fossa faz parte do amor. Quem não sofre um pouco - um muito, um demais, um inacreditável - não aprende a valorizar os melhores sentimentos, as melhores pessoas e as melhores oportunidades de ser feliz. Então, que venham as dores!
Doeremos, lembraremos e, depois, melhoraremos.
        E se você fugir da tristeza, ela vai lhe perseguir até que você ceda. Assim, bem grude mesmo. Porque se você diz para si mesma que não é capaz de aguentar uma lembrança e uma lágrima, essa angústia vai se 'adesivar' no seu coração; decepções têm vida própria, sabia? E elas adoram uma batalha com a coerência das pessoas. E como os sentimentos mais opostos são os que convivem melhor (uma lição bonita para a vida, por sinal), é assim que as recaídas acontecem. É assim que você se esquece de que ele lhe afetou: você foge tanto de pensar na dor que, quando ela lhe encontra, você se rende às chantagens dela. E ela vence, ora. Com a maior facilidade esperável! 
        Por isso, quando parecer impossível não se lembrar, a solução é simples: lembre-se! Pense mesmo. Derrame uma, duas, vinte e três lágrimas. Pondere, conclua, ou não conclua; demore-se nos detalhes. Pense nos sorrisos, nos bons abraços e nos beijos. Não tem problema; não é fraqueza.
É história. É vida. É necessário.
        Por que sabemos reconhecer um pesadelo? Por existirem os bons sonhos. Por que evitamos o errado? Por conhecermos o certo. Por que nos cansamos das pessoas?
Por sentirmos que já fizemos tudo o que era possível. E é esse o segredo da insônia:
pensar até cansar. Canse-se, ora! Pare com a mania de se poupar "para o seu próprio bem", porque esse é o disfarce mais óbvio para a covardia. Enfrente-se, ora! Admita para si mesma que é um ponto vulnerável e veja o quanto você é humana. Assuma seus passados. Assuma seus problemas. Afete-se! Faça o que for possível.
Porque passa. Melhora, e você amadurece.
        Você vai ver muitos furacões nos noticiários. Muita destruição, muito desespero.
Mas eu garanto:
a cada furacão, as pessoas se reintegram. E se preparam para os próximos abalos.

Até que eles cessem, e seja possível lembrar-se, apenas, das reconstruções.

domingo, 20 de julho de 2014

(In)diretas.

[Soundtrack!]

Queridas colegas mulheres,
        É com sutil impaciência que lhes peço: parem de fazer drama. Parem de forçar desespero. Parem de postar status afirmando que "homem está difícil, hein".
Não, não está!
O problema é outro: vocês procuram personagens de comédia romântica ao invés de namorados. "O 007 do amor", "O Brad da Angelina", "O Clooney da minha vida".
        Ora, nós já somos taxadas de tanta coisa! E há quem queira adicionar mais um ataque: "em carência constante". Nossa situação nunca foi fácil (sem exageros ou surtos de feminismo), e vocês ainda gritam aos quatro ventos que 'precisam de um homem'. E mais!
Precisam de um homem que as ame, espere, beije na frente dos amigos - seus e dele - beije na frente da família - sua e dele; que as dê atenção na exata hora em que vocês querem, que não jogue futebol sempre que puder, que, preferencialmente, não tenha amigas mulheres (não gostosas, pelo menos), que não beba - não saia para beber com os amigos, na verdade - que se lembre de contar todas as coisas do dia (todos os dias! Quem consegue?), que sempre queira conversar...
E reticências infinitas.
Colegas: se quiserem alguém assim, recomendo que montem um sistema operacional! Com voz sexy e uma boca como ícone. Perfeito! Beije o celular/computador quando e aonde quiser, leve-o para quaisquer lugares e dê a ele o nome de Brad Clooney.
        Porque, queridas, homens têm defeitos - exatamente como nós também temos ("defeitos, eu? Nunca!"). Eles acordam de cara amassada, nem sempre estão de bom humor e SIM, aceitem: exatamente como nós ("de novo? Que mania de equivalência!"), eles precisam de tempo para si.
Você não é uma religião, a ser seguida 24h por dia; você é uma mulher! (Dã!)
Assuma-se como tal e pare de agir feito louca - ou de exigir características estupendas, como se você fosse perfeita e precisasse de alguém em pé de igualdade.
        O amor não nasce à força. E coloquem uma coisa na cabeça: homem algum vai se sentir seguro perto de uma mulher insegura.
Porque sim: exigir a perfeição só mostra o quanto você se sente incapaz de conquistar um cara normal, com condições e padrões de escolha (só não tão exatamente como os seus porque, pasmem: eles realmente são menos impossíveis que nós).
        E enquanto você fica sentada, de cara amarrada, esperando sabe-se lá quem ou quê, há homens também sozinhos, chateados porque há mulheres que reclamam demais. E que, talvez, por acharem que mulher alguma é capaz de se controlar num relacionamento sério, se viram com os famosos e criticados "casos sem compromisso".

"Como assim?!
Leiliane, você está defendendo a safadeza masculina?"

        1º: "casos sem compromisso" não é sinônimo de safadeza.
        2º: Não, eu estou mostrando a incoerência feminina! E mostrando, também, que eles são tão imperfeitos como nós. E é aí que mora o nosso "pé de igualdade" nos relacionamentos:
na imperfeição.
        Às vezes, precisamos nos arriscar um pouco. Ser conquistada é ótimo, mas saber conquistar prova firmeza, autoafirmação.
Seja a mulher da qual ele precisa, e não aquela da qual ele quer fugir.
E saiba: nem sempre você é a "solução para todos os problemas". Então... Sem ilusões, tudo bem?

"Mas Leiliane,
os homens legais não têm atitude!"

        E como ele vai saber que pode agir, se você, ao invés de mostrar interesse e reciprocidade, fica em constante espera estagnada?
Você amolece com uma boa pegada? Que maravilha! Eles respondem a estímulos também; indiretas, deixas e ambiguidades. São homens, queridas, e não gurus que adivinham os momentos desejados por nós.
Saiba ter paciência também; há outros prazeres além do físico.
Conhecer-se, conversar e ponderar: faz parte.

"Mas Leiliane, onde eu os acho?
Como eu conheço um homem disponível?
Só vejo bonitos gays, os bons estão comprometidos e os canalhas... Bem, são canalhas!"

        Colegas: os gays nasceram assim, então paciência. Os bons comprometidos estão, provavelmente, comprometidos com mulheres espertas e boas, também.
E fujam dos canalhas, pois eles atraem a síndrome do "ele-vai-mudar-por-mim".
E uma última dica:
as melhores histórias não são do tipo que se encontram.
A ideia para a criação delas surge quando você (pasme!) não está esperando.
E, então, ela é escrita.
Com boa vontade, pelas suas - sim, suas! - próprias mãos.



PS: ao meu amado homem imperfeito (fascinante, fascinante)...
eu que agradeço pela última sexta-feira.
Indie é sempre uma boa trilha.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Receios.

[Trilha pro texto, galera! Aproveitem!]
   
      E se eu acordar meio estranha, não me estranhe.
      Talvez você não saiba, mas esperei demais, tentei demais, inventei demais; planejei [de menos]. Talvez você não pense, mas o tempo passa e as pessoas mudam - mesmo que não queiram, mesmo que não possam.
Mesmo que tenham prometido o contrário.
      Tenho medo, entende? Medo da sua demora. Eu queria um abraço tolo, uma resposta, justa ao meu "Bom dia!" sincero, uma demonstração qualquer, que nasça primeiro em você - e não em mim, como de costume. Já não é fácil aguentar sozinha a sustentação desse grande abstrato que somos nós. Já não é fácil saber que você tem alguém especial - e que eu não tenho, especialmente, você. Então, tenta ver o meu lado... Tenta notar, tenta enxergar, perceber, concluir, deduzir. O que for!
Mas faz, mesmo assim. Por mim.
      Até porque... E se? E se você não vier, e se você não quiser, e se você a amar, a desejar, a preferir? E se ela for tão certa que oculta as minhas qualidades? E se ela te agradar mais que eu? E se ela for mais bonita, mais sensata, mais mocinha ou mais gentil? As minhas armas são as atitudes - essas mesmas que você não pode retribuir.
E se você realmente me quisesse... Já estaria comigo. Já seria o "nós". Porque a escolha é simples, mas a balança, inevitavelmente, pesa para um lado, não é? E esse lado não é o meu. Não é nosso. Não poderia ser.
      E sabe o que é pior? Eu ainda te esperaria. Se vocês terminassem, e lhe fosse conveniente ficar sozinho, eu esperaria. Se você não me quisesse, me rejeitasse a toda hora e me mandasse ir embora... Eu esperaria - de longe, mas esperaria.
Porque você nem imagina, não é? Que eu lhe escrevo todos os dias, que eu faço votos diários de "bom trabalho!", que Deus cansou de me ouvir pedindo pra Ele cuidar da sua alma. E que se um dia me perguntassem "o que ele fez pra merecer tanto?", eu responderia:
"Nada. Não me julgou. Não me maltratou. Não me menosprezou, não montou imagens. Foi apenas ele, com tudo o que vem no pacote. E isso me bastou; isso me basta."
      Por isso, se eu acordar estranha, não me estranhe tanto. É que a espera dói - e não poder lhe falar sobre tudo... Me paralisa. Me consome. Me faz engolir 1000 palavras que você não pode ouvir. Porque, para todos os efeitos, eu estou só lhe esperando.
Quando, na verdade, eu estou lhe esperando...
Sozinha.

Perdas.

Há pouco, perdi um grande amigo;
um grande amigo, por pouco, perdi.
Não há mais nem um pouco de mim
em seu peito:
é esse o castigo.

Tantos anos de amizade avançada...
Jogados fora por um tolo - enfim.
Se eu chorar, infeliz e amargurada...
Não me olhe - nem nutra pena por mim.

E se eu lhe chamar, um pouco esperançosa,
creditando a desculpa, pequena, que houver...
Ignore, pois, os pedidos desta rosa;
considere, apenas, o rancor que lhe couber.

Meus espinhos espetaram tuas costas,
e o teu escorreu, quente, sobre mim.
Meu perdão se esvaiu, frio, sem respostas...
teu ódio paira, pesado, em tom carmim.

Será possível, um dia, eu lhe olhar?
Desculpas minhas, a mim mesma, eu darei?
Não lhe condeno: nunca vou poder julgar
a morte turva, à amizade, que causei.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cenas.

[Soundtrack do texto! E eu, particularmente, amo essa música!]
   
      E, por uns breves segundos, não havia mais nada.
      Senti o choque do encontro das nossas mãos. A corrente me percorreu. Os anelares se tocaram e não - não se anularam. Foi silencioso. Foi lento. Foi bonito.
A paisagem se desfez, as pessoas se afastaram. Apenas nós estávamos ali. Nós sentíamos aquilo.
Nós éramos, enfim, o nosso próprio 'nós'.
      Experimentei beijar-lhe o ombro. Tinha aroma de roupa limpa, natureza e colônia. Encostei a cabeça ali, entre meu peito e aquele coração. E, bem ali, nós nos sintonizamos. Tocamos a mesma música. Cantamos, calados.
E o sol nasceu às 17:37 de uma sexta-feira de julho.
      "Olha", ele começou, "perdoa o mau jeito.
Mas é que eu sou um tolo medroso, que não quer errar com você. Por isso, por favor, não fica pensando que eu vou te largar a qualquer momento. Não é assim.
Sei que eu não tenho atitude, mas, pelo amor de Deus, atitude era tudo o que eu queria ter. Mas, me diz: como eu te beijo com a minha boca seca de nervosismo? E se o hálito da pasta de dente já tiver passado? E se eu for rápido demais, nossos narizes se baterem e você gargalhar na hora do nosso primeiro beijo?
Com que cara eu fico, linda?
Cinco vezes a cada dez minutos eu me sinto prestes a te agarrar pela cintura e pedir, de um jeito especial, que você não vá embora. Enquanto a gente assiste a uns filmes, eu fico querendo ser aquele protagonista que mata doze mafiosos e volta, triunfante, pra abraçar a mulher que ama.
E se a gente escuta Los Hermanos, eu queria ter uma voz boa e cantar pra você. Eu queria... Que você fosse a minha Lisbela. Queria que a gente se agarrasse ao som de uma música da Legião.
Eu te respeitaria, e você se sentiria lisonjeada.
Mas é difícil... Reagir à sua presença. É difícil sentir que, dessa vez, eu não vou suportar perder, porque, você sabe... Eu sou o rei dos vacilos.
Olha... Só... Acredita em mim, tudo bem?
Eu te quero do meu lado. Bem aqui. Pra assistir a um filme de mafiosos e pra caminhar pela orla.
Eu sei que sou medroso, mas você, linda, não precisa ter medo.
Já me conquistou. Entende?"
      Ele me falou tudo isso, encarando as nossas mãos. Às vezes, parava; respirava fundo, pensava e seguia. Parecia ter ensaiado aquele discurso muitas vezes, antes de ter coragem pra verbalizá-lo. Eu poderia ter ouvido só os rascunhos e, ainda assim, eu sorriria para a verdade mais meiga da semana.
      "Se eu fosse a mulher amada, você mataria os doze mafiosos e voltaria pra me abraçar?", perguntei.
      "Se você fosse?" Ele riu.
      "Sim".
      "Você já é, garota", respondeu. E me olhou. "Você já é essa mulher".
      Às 17:50, o sol se pôs. Os tiros que ele disparou contra os doze mafiosos se transformaram em estrelas. A lua, crescente, assistiu às bocas secas e aos narizes se batendo.
Mas eu fiquei inebriada demais pelo gosto de hortelã que a pasta de dente deixara e, admito:
não pude perceber mais nada.


A diferença entre o filme e a vida é que, na vida, as coisas realmente acontecem.
E os vínculos existem para serem selados.

Términos.

[Soundtrack do texto, galera! Espero que curtam!]

De fato: mudei.
Sem ver nem pra quê!
Te larguei, maltratei...
O quanto? Nem sei.

Agora, na mata,
o frio que te mata
dá tapa, te ataca;
e eu te largo, sem lei.

Outrora, embora,
crianças nós fomos
e, cantores, cantamos...
De nós, eu cansei.

Por hoje já chega!
Crianças já fomos.
Calados ficamos...
Tapados, eu sei.

E foi-se o tempo
de ser o que fomos,
de cantarmos amores...
Para amar, não há lei.

Por hoje já chega!
Crianças são somos.
Calados, estamos...
Findados.
Eu sei.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pedidos.

[Soundtrack do vídeo! Dê o play e curte o texto!]


Fiquei sabendo que o seu dia não foi bom.
      Me desculpa a covardia de não entregar mais um texto - mas, sabe como é, não adiantaria de nada. Como eu disse, já sei que o seu dia não foi bom e a melhor coisa que posso fazer, por enquanto, é evitar que ele piore.
      Mas senta aqui... Me conta como foi, por onde você andou, com quem conversou, que palavrões praguejou, que ideias abraçou e por que não recuou; me conta por que tudo isso vale a pena - talvez, contando, você se lembre de que nada é em vão. E me conta mais, me conta sobre tudo:
sobre a mulher que te explora no trabalho, sobre a lotação dupla, diária e calamitosa, sobre o cansaço após estágio e terminal - sobre chegar em casa e ter família pra atentar, irmão mais novo pra se preocupar, mãe pra saber onde está, aonde vai, por quem se foi...
      E me fala mais! Me fala tudo. Me fala que a saudade aperta, que a turma completa é mais divertida e preenchida, que as manhãs perderam a rotina boa, e que viver feito adulto estressa mais. Me fala que as conversas ainda são as mesmas, e se o futuro reserva bons pensamentos, se o passado te ensinou alguma besteira, ou se o presente é gostoso de ser vivido. Ma fala se está tudo bem, me fala se tem medo de estar indo mal... Mas me fala, qualquer coisa, só por falar comigo. Vem...
Não dói tentar.
      E me explica por que você some, por que o sono tornou-se o seu melhor amigo, por que não nos falamos mais na madrugada - mesmo eu já sabendo todos os motivos, me explica. Me explica, porque eu gosto de ouvir você falar - e de ler o que você escreve; acalenta a sua ausência. Me explica por que acabou essa nossa fase, me explica o que você sabe sobre o mundo, me explica se existe mesmo esse muro - entre o sonho e a felicidade. E se você não souber explicar, não tem problema; senta aqui, comigo... A gente tenta junto. A gente entende junto.
A gente se explica, sem se condicionar.
      E me encanta mais, vai... Me encanta mais, que você sabe fazer isso tão bem - e sequer percebe! Sequer se aproveita. Me dá razões pra te esperar, me encanta e me faz querer te procurar, me faz não poder aceitar as circunstâncias! Me causa a angústia boa de quem sabe que não vai terminar de um jeito ruim - mas que, ainda assim, sabe que não terminou, e que é preciso ter paciência. Vem aqui me causar essas bonitas imagens, essas friagens, esses calores - vem sanar outras dores que, porque você vão veio, ainda estão em mim. Vem cá, que eu não mordo pra sangrar - e nem machuca tanto. Só um pouco, só de leve...
Só pra marcar.
      Eu sei que as coisas estão mais difíceis, mas me fala sobre como é bom ter o final de semana de folga, sobre como é bom deitar na cama e saber que não está parado: a sua vida continua e é você quem cuida dela. Me fala sobre as histórias que você já ouviu, sobre os perrengues que ainda pode passar, sobre a cor da calça social que você comprou - e sobre o presente da sua tia, no qual você nem pensou! 
Me fala uma proposta, que eu te devolvo uma frase de efeito e o presente perfeito.
      Mas faz mais por você... Entende? Quando eu falo que gosto, não é mentira, caramba! Gosto mesmo, de querer cuidar e preservar seu sorriso, de querer provar seu abraço e aqueles beijos na linha do meu queixo que você sempre deixa comigo. Não me deixa desistir - só não me deixa! Já é suficiente, já serve, já enche. Me enche de planos, me enche de cautela - me enche desse "nós" estranho, que existe sem ao menos existir.
Mas... Senta aqui e me revela:
você também tem pensado em mim?

Cobranças.

[Soundtrack do poema! Vale a pena ler ouvindo, hein?]

Perdoa-me, homem: eu te amo;
isso me faz te cobrar mais do que tens.
Mesmo quando outro nome eu chamo
és tu mesmo, homem, quem mais me convém.

Nunca fui branda, homem, disso tu és sano.
Sou espaçosa e fluida, do jeito que me faz bem.
Mas enquanto me espalho e, por ti, ainda clamo...
Teu tempo esgotável sequer me diz "vem!".

Perdoa-me, homem: ainda agora te amo;
isso me faz esquecer de que não sou tua refém.
Há tantos outros dos quais a atenção eu reclamo...
Mas é a ti que eu amo; e isso me contém.

Por hoje, já chega: não mais te chamarei.
Também já basta o olhar de outrem que reclamei.
Condenso-me toda e, por ti, me anulei!

Mas amanhã é outro dia.
E amanhã, ainda,
tão mais te amarei.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Indomável.

[Soundtrack do texto, galera! Dê play e curta!]


    E era daquelas que compunham a nata dos que esqueceram de se importar.
    Entrava nos carros e não queria saber aonde ir. Só queria ir. Sair, fugir, voar. "Ter na mente as asas que o corpo não me oferece", dizia aos amigos. E abaixava os vidros - os quatro, porque o vento lhe faria bem, ela afirmava. Com a mão para fora, era parte da paisagem. Era parte das árvores.
Ela era uma viagem só.
    E era daquelas que encontram na natureza uma razão pela qual lutar.
    Olhava o verde e se achava muito cinza. Voltava em casa, colocava um vestido vermelho e ia à padaria. Ela queria cantar com os olhos. Queria cantar e (en)cantava divinamente bem. Não reconhecia isso, mas sentia que as pessoas a ouviam. Falava alto, por ser insegura demais ao ponto de esperar que buscassem ouvi-la. Pisada forte, afundava na areia e espanava os pés, depois. Tinha medo de ir sozinha até a esquina, mas ela se vencia e caminhava por dois quarteirões. E sorria, porque sorrir era o segredo que ninguém conhecia.
Ela era uma felicidade, inteira.
    E era daquelas que as pessoas não poderiam entender.
    Ela queria, ela começava. Ela desistia, terminava. Inconstante, improvável, inexplicável. Sorria quando fazia alguém passar tristeza; "eu entristeço, mas posso tentar ajudar". Não ajudava, porque depois de experimentá-la, era um vício só. Mas ela não; ela não se viciava em ninguém. Era desvirtuada do mundo, mas completamente atenta e precisa com ele. Ninguém a encontrava quando ela se escondia, ninguém mudaria suas opiniões e decisões. Se ela viesse, ela ficaria pelo tempo que quisesse.
Se fosse embora, ninguém sabe se arriscaria voltar.
Mas muitos pediram o seu retorno, pois o silêncio depois dela era ensurdecedor.
    E era daquelas que se faziam em partes, nunca em inteiros.
    Meio entidade, meio capacidade. Apresentava-se feito uma mulher mas, por Deus, não poderia ser mais criança! De manhã, adorava doces; de noite, degustava bons vinhos, boas companhias, boas possibilidades. Na segunda, dividia as despesas; nas sextas-feiras, aceitava ser servida. E todos a serviam, ah, serviam com gosto... Porque, no sábado, ela era uma nuvem de leveza. E, no domingo, sumia. 
E queriam descobrir aonde ia, por quem saía, de que se aproximava quando não era mais nada de ninguém, a não ser ela por si mesma.
Ninguém a conhecia. Não, não.
    Não sabiam que ela ia ao mar. Fechava os olhos. Colocava os pés nas marolas e deixava que a Lua falasse.
"_ Por que você é indiscutível? Por que ninguém define você?"
    E ela sorria, bonito, sem restrições. Baixinho, falava.
"Por que sou uma das estrelas que brilham ao seu lado."
E o silêncio que vinha depois dela era celestial.
"Viver não dói. 
Pertencer, sim."
    

Tesouros.

[Fica aí a soundtrack do texto. Dê o play e leia!]
Tem gente que é assim... Inexistente, sabe?
        Dessas pessoas que movem um trem com uma palavra; pessoas que têm força por serem suaves. Pessoas que te alcançam onde você não foi alcançado, e que te exploram sem que você peça. Essa gente te descobre por inteiro, e não contam para ninguém que acharam o tesouro - ou que finalmente entenderam que não há tesouro algum.
        Essas pessoas têm anjos e demônios no olhar. Pessoas que te instigam a tentar, a observar, a colher informações antes de deduzir preceitos. Pessoas que se mostram vinte por cento e são muito, muito mais que cem. Dessas, que têm uns segredos bobos que todo o mundo tem - mas a maneira de preservá-los as torna únicas!
       Achei um desses. Desses que te fazem perder-se neles, entende? Desses que te convidam a viver. Fui explorada pelo sorriso - eu sabia que sorrir era perigoso, mas sorri pelo prazer de perigar. Fui raptada por ele; hoje, me encontro sob a melhor das custódias. E vim falar que todos vão passar por isso um dia - porque todos encontrarão os seus momentos, as suas pessoas.
Não dói! De verdade. É uma nuvem branca, e eu venho colorindo. Entende? Tenho a liberdade de me reinventar.
      A propósito: nos olhos dele, encontrei os anjos. Mas te confesso:
foi pelos demônios que eu fiquei.

Fases.

[Fica aí uma soundtrack para o texto. Dê play e curta!]

            Na verdade, eu sou mesmo um livro. Desses, de capa bonita, autor com nome memorável - e, para a infelicidade dos possíveis fãs, uma história sem muitas ressalvas.
Sim, já aprendi sobre isso: na vida, o que importa são as ressalvas.
O resto? Todo o mundo conhece ou tem.
            Daí lá vem aquele curioso, em busca de aventuras e mundos paralelos, abrir-me na última página e ler a última frase, tentando compreender o enredo. Sou daquele tipo complicado, em que não adianta fazer isso - porque meu livro acaba em verbos, e verbos representam ações; ações dão ideia de continuidade e, assim, meu livro parece nunca acabar. E, talvez, não acabe mesmo - às vezes, "me sinto infinta".
Vi isso num filme, quis colocar num texto e coloquei; não exijo referências.
            E se o livro sou eu, e eu sou o livro, meus capítulos são os meus episódios, as pessoas são minhas personagens e meu narrador... Bem, talvez ele mude a cada 3 meses, como uma escova de dentes que desgastou e não serve mais; observar-me é fácil, narrar-me também. Entender... Quem sabe, não?
O melhor de mim é isto: renascer e, ainda assim, ser absurdamente igual ao ano passado, todos os anos.
            Já tentei lutar contra a contradição - me desculpe, seja lá quem você for, se não correspondi às suas expectativas de que eu fizesse sentido. Não faço! Para quê? Ninguém usa o sentido.
Ninguém usa, de fato, a "razão" - porque, no fundo, toda razão é intuição.  Você acha que deve faz algo e faz. Há motivos, causas, estímulos e afins - argumentos, até. Mas o seu "achismo" é a sua tendência, e a sua tendência é a sua essência - e a sua essência não tem nada a ver com córtex, lógica ou 'aritmética cerebral' - se ela existir.
            Mas, voltando ao livro - eu, no caso - tento criar boas histórias novas. Novas histórias boas e histórias novas boas, também. Dia desses olhei para o céu e vi as nuvens cinzas num dia em que eu esquecera o guarda-chuva. Até indico isso a você, seja lá quem for: esqueça o guarda-chuva qualquer dia e, bem, torça para que chova.
Molhar-se é mais poético que se manter seco.
            Tentei, até, me fazer de antologia poética. Sou péssima em rimas, porque sou péssima em encontrar conexões - daí, tentei a prosa. Tento, desde então, saber por que eu me escrevo - ao invés de simplesmente viver. É mais complicado isso, de se escrever. Porque eu começo períodos com pronome oblíquo, coisa que muitos fazem. Gosto de ênclises, simpatizo com a retórica - mas e daí?
Quem sabe o que é oblíquo? Nunca confie num termo que é, ao mesmo tempo, gramatical e matemático. É confuso! E eu sou meio confusa - talvez completamente...
E vai ver é isso!
Eu sou meio oblíqua, também.


Autorretrato.

[Soundtrack do texto! Dê o play e aproveite!]
Quem sabe um pouco da docilidade.
Essa mesma, que as pessoas quase não têm mais.
                    Escondida entre um meio sorriso e a covinha do queixo. Ali, eu me encontro tão bem. Talvez no vínculo de preocupação entre as sobrancelhas. Nas linhas das têmporas. Nas dúvidas entre o desleixo e a postura. Naquele meio tempo em que abre a boca e pensa no que pode falar. Na mania de encostar nos ombros alheios e de consertar a posição da blusa enquanto mantém conversas. Ali, quem sabe, eu me vejo tão bem.
                    Nas mil e duas expressões do dia a dia. Na maneira de opinar com os olhos. Na vergonha e no desconforto de sorrir mostrando os dentes; "um pecado", por sinal, pois há uma nota única entre as gargalhadas. No cabelo: penteado para a faculdade, assanhado nas fotos. No meu ímpeto de preferir os assanhados.
E de assanhar, também.
                    Na tendência de observar. No respeito e na gentileza. Na educação e na falta de jeito para lidar com o mundo. Entre o adolescente e o quase-adulto. Talvez, quem sabe, numa magia que eu ainda não sei de onde vem. Na sensação de levitar. Nas músicas que ouve, talvez, eu me ache, encolhida, tentando ouvi-lo respirar. Entre os segredos que nem ele sabe que existem, entre os segredos que nós podemos criar; segredos que podemos ser. No espaço entre a possibilidade e a concretização. Nas monofrases simpáticas, quando a disponibilidade para uma conversa é pequena.
Ali, na sinceridade não pronunciada.
                    No status de melancólico assumido. Na personalidade à moda antiga. No polígrafo que traz junto ao toque das mãos. No clarear que se dá quando tira o cabelo da minha face. No sol que não queima. Na sensação de que nascem lírios em mim, a cada frase de amor. Lírios e tulipas.
Tulipas, lírios e girassóis.
                    Nas dedicatórias do meu livro em produção. Quieta, eu deixo meu coração, remendado e cicatrizado, escrever por mim. No guia do que eu sinto. Na saudade declarada. Na fidelidade aos amigos. Na solidariedade de sempre ler os textos.
                    Quem sabe? Nos dentes que ele não mostra e na própria luz, que não vê. Ali, eu sinto, há um reflexo de mim que eu via. Há uma certeza que eu não podia afirmar. Há aquela âncora pronunciada:
"é hora de fincar raízes."

Princípios.

[Soundtrack do vídeo! Dê play e leia!]
_ O que é que você tem? - Ele me perguntou.
                   Ora, eu tinha tudo. Boa faculdade, bons amigos, bons momentos na família, boa casa, bom equilíbrio mental (acredite, nem sempre é fácil, quando você é daquele tipo que pensa demais). E eu tinha, naquele momento, parado a minha frente, um bom motivo - um enorme bom motivo - para afirmar que, talvez, eu tivesse tudo o que eu achava não merecer ter.
Motivo esse que tinha nome, endereço, telefone, academia seis dias por semana e um par de olhos (sim, um par! Ele não é caolho, o que é, no mínimo, agradável) que me matava todos os dias. Matava e trazia de volta à vida.
_ Nada. É bobagem - respondi.
                   Como explicar para ele? Como explicar aquele medo, aquela angústia tola, desnecessária e dispensável numa segunda-feira à tarde? Como falar sobre 21 (vinte e um, sim) problemas abomináveis de uma mulher que mal tinha alcançado os dezoito anos? Como pedir a compreensão dele para 10 devaneios de carência, 4 surtos de abstinência afetiva, 4 casos indefiníveis, 2 problemas "maiores ainda" - e um desgraçado, digno de se esquecer (só não tão sujo quanto a imagem que eu fiz de mim mesma, depois de tudo)? Como explicar que me deixei ser atingida de tantas formas? Como explicar, sem parecer tendenciosa, que apenas ele - apenas aquele desastrado parado a minha frente - tinha me aceitado, me admitido... Por acreditar que, no fundo, eu sempre quis lutar e persistir? Por dizer que, enfim, eu seria suficiente? Como contar que ele tinha encontrado as minhas raízes? Como explicar que ele havia me encontrado nos meus sonhos, que ele habitava em meus sonhos - que os sonhos dormindo não se comparavam, em momento algum, aos sonhos que eu tinha acordada, diariamente, olhando para aquele bom motivo?
_ Você não fica triste por bobagem. Vou começar a pensar que eu fiz alguma coisa errada... - chantageou.
                   Acho que foi o maxilar. Alguma coisa na expressão de desafio, também. Alguma coisa sobre músicas antigas. Night in white satin, baby.
Mas, quem sabe, tenha sido o jeito como ele acaricia meu braço, como se aquele gesto - acariciar um braço - significasse tudo o que alguém poderia querer entender. O olhar de soslaio, seguido de um riso baixo, abafado, quieto - sem motivo, sem explicação. Os risos dentro de um ônibus estressante - "não sou eu quem transforma meu estresse em graça, homem. É você!" - ou os outros risos no meio do calçamento; risos no meio de uma aula, a vontade de rir no meio de um beijo - afugentada pela vontade maior de beijá-lo ainda mais. A maneira como ele abraça de leve - nunca tão forte, nunca prendendo... Deixando-me livre em mim. E, ao mesmo tempo, me convidando a não querer sair dali. Não querer sair daquele laço, não aceitar ser mera sombra do meu passado, não sair da redoma de proteção que ele cria entre nós e o mundo.
Não. 
Eu nunca sairia dali.
_ Não é nada. Só não sei quanto tempo pode demorar até a gente se ver de novo. Só isso - concluí.
                    Não me leve a mal: não é que eu seja bobinha. Não sou. Também não sou imatura, incabível, inconsequente ou impulsiva demais - não mais, pelo menos. Sou dramática, tudo bem - mas termina aí, e isso não tem nada a ver com drama. Tem a ver comigo.
Com o medo que eu tenho que ser mais difícil sem ele por perto. Com a constante pergunta "por que eu não pude conhecê-lo antes, meu Deus?". Com a maneira de eu me tornar inerente aos meus sentimentos, com a maneira que ele arranjou de dominar tudo onde, antes, eu esbanjava posse: autocontrole, coerência - a ciência de esperar na calçada, e não no meio do asfalto. A determinação de ser a guia das minhas escolhas. Mas agora... É diferente. Diferente porque ninguém sabe que nunca, mesmo com 21 histórias de "antiamor", alguém teve esse efeito em mim. Ninguém fez com que eu, finalmente, pouco me importasse com as pessoas olhando. Ninguém me tirou de órbita. Ninguém me avisou que valeria a pena dar créditos aos Smiths, ninguém transformou um beijo numa viagem. Ninguém respeitou, com tanta solenidade, os meus limites, os meus receios, as minhas pedras no meio do caminho. Ninguém foi tão ele.
Ninguém pode ir tão fundo em mim.
_ Prometo que a gente vai se ver logo.
                       Queria que você pudesse saber. Queria que você pudesse sentir. Seja você quem for: poderia sentir isso, que mora aqui dentro, uma vez na vida - e seria suficiente. Eu queria poder lhe mostrar que o tempo não é nada. Queria poder mostrar que não importa quantas vezes você caiu num beco sem saída: as coisas melhoram. Queria contar que depois de momentos ruins, os bons chegam - bons momentos e bons partidos, alguém me falou. Queria que ele soubesse, uma vez na vida, que conquistou a minha verdade.
                       Por enquanto, eu continuo olhando-o, todas as vezes, antes de subir no ônibus. Ele nunca ainda está olhando também - mas eu olho, mesmo assim. Porque olhar é bom. Grava, como uma foto. Quando eu me viro e me deparo com o maxilar que sempre me desconserta demais, eu sinto que ele ainda não conhece o principal segredo: eu nunca saio, de verdade, do seu lado, homem. Nunca saio do seu abraço. Mesmo não sendo... Eu já sou.
Sua demais.