terça-feira, 30 de setembro de 2014

Magma.

Há, no fogo, uma fagulha que centelha
e que move meio mundo de intenções;
ilusórias, melindrosas olarias
- desejadas, ansiadas tentações.

Há, queimando, um bom pão de cada dia
mais pecado que uma meia salvação;
horrorosas, insistentes epifanias
- mal montadas, ideais resoluções.

Há, na cinza, o corpo são que pronuncia
um rio inteiro de vontades e afeições;
programadas, planejadas as mentiras
que ocultam nossas tantas perdições.

Há, no intenso, um prazer que não perece,
e no suave o valor das más paixões;
denegridos ou erguidos pelos dias...
Inefáveis os gemidos:
vulcões.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Anseios.



Leve-me, homem:
por este dia,
que eu seja tua.
Toma-me, homem:
por toda a noite,
que tu sejas meu.

Não peço por uma metade tua
- não quero meia carne crua;
quero, apenas, sentir na pele
que, quanto mais o perigo nos repele,
maior incêndio acata a cama,
nua.

Prova-me, homem:
por este dia,
que eu seja tua.
Tenta-me, homem:
por toda a noite,
que tu sejas meu.

Esses teus meios, tuas honras, tuas caras,
teus modelos, ponderares, vãs ações;
teus instintos, teus avanços, teus falares...
Tuas vontades, teus tomares...
Nossas lições.

Pega-me, homem;
por este dia,
que eu seja tua.
Usa-me, homem:
por toda a noite,
que tu sejas meu.

São segredos mal expressos nos olhares,
e os ímpetos controlados por temor...
Ah, temor! O tal voo desnecessário...
Por que tentas?
Nossos seremos! Para que rubor?

Sonha-me, homem:
por este dia,
que eu seja tua.
Sente-me, homem:
por toda a noite,
que tu sejas meu.

Mas dispenso, já agora, o turvo dia
que, tão longo, mostrar-se-á em um sorrir;
e neste dia, nesta hora, pela aurora,
perguntar-lhe-ei:
"Cansaste?
Ou ainda mais longe podes ir?".

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Radicais.



O que há?
É de mim que advém o silêncio,
puro e íntegro, guardado no lenço
dobrado e mantido em segredo tenso
do que, entre nós, nunca se diz?

O que há?
É tão seu esse modo, esse estado
de quem compreende o vago achado
de vida concisa; que é, então, marcado
no chão, largado, pelo o que eu não fiz?

O que há?
Vai ser nosso o caminho, o destino,
a carcaça, a promessa, o desatino
dos que não se enxergam além do motivo,
mas se veem, calados, por mais que um triz?

O que há?
O mantido, em tudo envolto e perdido
pelo abstrato que, tolo, ainda se faz
o meio mais firme e diário dos ais que,
ainda entre nós, se desfazem como giz?

O que há?
Ou não há o que haja?
Que seja.

Achei a linguagem,
perdi a sintaxe:
mas que passe.

Entre o saber e o sentir,
escolho a matriz;
raiz.