quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Libertares.

      [Trilha sonora para o texto! Se quiser acompanhar a letra desde o começo da leitura, pule para 0:20]


A parede ruía, silenciosa.
O vento soprava a poeira.
Ao longe, os carros se esqueciam de passar.
O tempo parado, o momento ainda lívido.
A pulsação, forte.
Martelares frenéticos entre as costelas.
A respiração esquecida pelos pulmões.

Um outro muro caía:
era o muro das vergonhas.
Não havia mais nada delas.
Não havia mais o passado.
Não havia mais os erros imperdoáveis.
Ali, me presenteava com o perdão.
Ali, eu poderia me perdoar.
Eu poderia, enfim, me esquecer.
Esquecer que eu não merecia tal bem.
Esquecer que eu mereci, afinal, viver os males.
Mas, agora, eu tinha uma chance.
E ela reinava entre nós.

Íris e pupila.
Escuro e claro.
Opostos e semelhantes.
Combinantes.
Complexos e completos.
Encontrados em meio ao turbilhão.
Em meio à multidão.
Marcados por Deus, destino ou consequências.
Ou por tudo, em união.
Coexistência.
Coabitares.

Então eu estava explícita.
Assim, eu demais.
À mostra em tudo.
Meus segredos.
Minhas vontades.
Meus impulsos.
Meus orgulhos e minhas táticas.
Tudo, muito visível.
Pouco notável.
Mas esconder não é possível.
Não é viável.
Não será necessário.
Ele podia ver o que eu nem pensava em mostrar.
Assim, invasivo.
Ainda que cauteloso.
E, por isso,
tão mais dominador.

Eu, intimidada, não consegui desviar-me.
É entorpecente, ser o alvo.
Saber que é na minha direção.
É vício.
É viciante, e eu não quis ser forte.
Por que lutar?
Não há guerra!
Há paz.
Há bem.
Há dois lados que ganham.

A cada segundo, mais nua.
Despida dos revestimentos.
Nada além da chance entre nós.
Nada metafísico, além da conexão.
Nada que nos impedisse.

Tudo isso:
era ele, que me olhava.
E explorava.

Era eu, no modo mais simples.
Transparente.
Embaçada, talvez, mas pelo calor.
Nunca pelo medo.
Não há medo!
Há amor.

Ah, meu bem...
Há tanto amor!



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