terça-feira, 12 de agosto de 2014

Passagens.



Meu bem:
os ventos mudaram, e eu melhorei.
Venho pedir-lhe perdão pelos momentos
em que, injusta, lhe acusei
das injúrias tão fogosas
que, a mim mesma, declarei.

Meu querido:
as falas calaram, e eu superei.
Venho pedir-lhe compreensão
pelos momentos em que, surda,
lhe concedi diversas lamúrias,
de mulher rechaçada,
ao quase homem
que eu quase amei.

Meu saudoso:
as vontades cessaram, e, enfim, me esvaziei.
Venho implorar-lhe paciências
pelas vezes em que divago,
insolente, pelos dias
em que todos os meus poços
de conhecimento
eu lhe dei.

Meu amigo:
os momentos passaram, e eu também passei.
Venho render-lhe dissernimento
sobre as tais coisas da vida
que, por sua furtiva (i)maturidade,
não as dediquei tempo -
e, por escolha,
eu mesma não lhe ensinei.

Meu passado:
as tolices morreram, e bobagens eu roguei.
Roguei aos céus, universos e estrelas
que ouvissem meus problemas
e abalassem minha erudição.

Roguei ao Deus, no único que creio,
que tirasse das minhas entranhas
a culpa das minhas mãos.
E roguei a mim mesma,
que por vezes fui perdição,
que abrisse meus próprios olhos
para aquilo que todos saberão:
enquanto poucos são eternos,
muitos não terão o perdão.
Enquanto poucos acertam,
tantos mais errarão.

E você, a quem tanto quis falar -
a você, quem eu tanto odiei
- o mesmo que, acima, quase amei.
Roguei que aprendesse a viver.
E que percebesse,
nos meios fios da vida,
que você quis ser amálgama;
e foi, tão apenas,
comutação.



E sobre o meu presente:
ele é dos poucos infinitos.
E não é mutável;
é apenas
fusão.

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