sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Perdas.

        
         Pode até ser esquisito, isso, de escrever algo que a gente sabe que o destinatário primordial não lerá. Eu conheço você. Sei que curtiu uma página por convenção, e que fala "Legal!" por ser a coisa mais próxima de sinceridade que encontrou para dizer.
Simples, prático e superficial.
          Pensei uns cinco dias, se passava para palavras ou não, essas ideias que me rondavam. Mais clichês impossível, por falar nelas. Mas concluí que, assim como eu, tantos outros se decepcionaram com promessas - e milhões dentre os demais ainda se decepcionarão. Faz parte da vida, não é? Quebrar a cara aqui, entender a verdade das coisas ali. Saber que nada vai ser como lhe disseram que seria. Sacar qual é a intenção das pessoas, ou sequer chegar perto de compreendê-las.

          Parei de usar circunlóquios nos meus textos. Espero que o fato de ser direta não lhe faça pensar que nutro mágoas, raivas ou "malquereres" por você.
Apesar de sim, eu nutrir parte de tais sentimentos.

          Não subestime meu senso de dedução, cara. É até vergonhoso, mesmo que para alguém nem tão rápido assim, pensar que eu não notaria certas lições.
Eu sei que o tempo encurtou, e que a liberdade para conveniências diminuiu. Porém, você não vai atrás porque não lhe convém, garoto (garoto, sim; homem, ainda não). Você não vem porque não tem graça vir. Não lhe fará diferenças. Não é tão importante quanto tantas outras "oportunidades de vida" que aparecem por aí. E, enquanto elas aparecem por aí, você some por aqui.
          Tem horas que eu tento até me convencer de que você ainda escuta Céu Azul e se lembra do dia em que colocou o fone no meu ouvido, enquanto ouvia essa música. E de que se lembra das tantas histórias que a gente compartilhou entre si. Dos segredos. Das confianças. Das liberdades que existiam entre a gente. Sabe, o lance de se compreender com os olhos. As palavras, cara, não era nada. Não eram porcaria nenhuma, porque a gente se compreendia de forma bem mais transcendental.
E era como essas magias que as pessoas juram que existem. E, talvez, existam mesmo!
Eu só não acredito que nos foi dado o direito de poder controlá-la.
Ou nos foi dado, e um lado interessado, simplesmente, se desinteressou.
          Amizade, cara, amizade não é isso. Amizade não é só um, entre dois, procurar. Amizade não é só buscar apoio quando há muitos problemas; o nome disso é apoio psicológico e, eu já expliquei: meu curso é Letras, não Psicologia. Não que eu deteste ajudar, pelo contrário; gosto muito. Acontece que, para tudo nessa vida, há limites e condições.
E os meus limites de ser tola acabaram, bem como as condições para isso que a gente tem/tinha, perderam totalmente o valor.
          Talvez o erro seja meu, por dar vazão a um valor que nunca mereceu mérito. Talvez o erro seja seu, por, enfim, merecer ler essas bobagens que escrevi. Talvez o erro seja nosso.
E talvez, o erro não seja de ninguém. Talvez, as coisas simplesmente mudaram, mesmo. E é isso aí, eu que me acostume com a ideia de que nem tudo permanece.
É só que eu não me esqueço fácil das vivências. Nem das experiências. Nem das pessoas.
Sou, muito mais facilmente, esquecida e/ou esquecível. E não é nem que eu seja uma pessoa horrível de se lidar; mas as pessoas cansam, evidentemente, de alguém com vocação para ser adulta demais.
          Mas, um dia, todo o mundo cresce, cara. Todo o mundo.
E os passos à frente se esgotam, e as pessoas se igualam.
E o texto que eu mandei no Ano Novo, pode perder, de vez, todo o sentido; ou, quem sabe?, clarear muitas coisas.

          Do futuro, entretanto, eu me recuso a escrever. Já cansei de ser saudosista e de lamentar o presente. Olhar para frente e ainda planejar é, me desculpe, exigir muito da minha boa vontade.
O que quer que você seja, cara, seja por si.
Eu, infelizmente, não vejo mais naturalidade na luz do nosso dia.


E, no final, nunca ouve dia em que você pudesse fazer mais por nós dois.


PS: Sua carta, aquela dos meus 16 anos, ainda está aqui.
E ainda é, disparada, a favorita dentre todas que ganhei, e dentre todas que escrevi.


Nenhum comentário:

Postar um comentário